Avaliação da literacia digital de estudantes em informática em saúde

Contexto

Na atual sociedade da informação e conhecimento é importante encontrar, analisar e utilizar a informação de forma adequada. Para isso são necessárias competências e habilidades relacionadas com a pesquisa, avaliação, gestão, uso e difusão da informação. Há diversas maneiras de se considerar a literacia digital, todas dependentes do contexto e tipo de aplicação, cada uma com suas limitações. Do projeto literacia digital da Universidade de Westminster, Londres, temos que literacia digital é a habilidade de localizar, organizar, compreender, avaliar e analisar informação usando tecnologia digital. Envolve um conhecimento do funcionamento da alta tecnologia atual e uma compreensão sobre como ela pode ser usada. Também considera uma consciência de quanto a tecnologia afeta o comportamento humano e cultural. Pessoas com literacia digital conseguem se comunicar e trabalhar de maneira mais eficiente, especialmente com aqueles que possuem o mesmo nível de conhecimento e habilidades (1).

Objetivo

Avaliar a maturidade da literacia digital de estudantes do Curso EaD de Especialização em Informática em Saúde da UNIFESP, 5a edição (2), e identificar competências quanto ao uso de tecnologias digitais. Esperava-se que a análise de literacia digital possibilitasse compreender o nível de atividades, suporte técnico e educacional que os coordenadores, professores e tutores deveriam oferecer aos alunos no curso.

Fundamentos

O questionário de avaliação de competências elaborado baseia-se nas diretrizes do Espaço Europeu de Educação Superior (EEES) por meio do questionário IL-HUMASS (3) sobre literacia da informação no ensino superior, no questionário de auto-avaliação de literacia digital (1) da Universidade de Westminster, Londres, e no questionário de avaliação de literacia digital do projeto Microsoft Digital Literacy (4). Seções dos modelos originais foram selecionadas, traduzidas e adaptadas para o cenário brasileiro. A técnica de grupo focal (5) foi usada para aprovação do modelo elaborado, análise de sensibilidade das questões e desenvolvimento de hipóteses. A implementação do instrumento web teve como base a linguagem em PHP e banco de dados MySQL, com identificação automática dos respondentes redirecionados do ambiente virtual de aprendizagem Moodle. Os resultados foram analisados por estatística descritiva (6) e para identificação de grupos de participantes com respostas semelhantes o método K-means (7) foi usado. A coleta, o armazenamento e a divulgação de dados respeitam diretrizes da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) (8). O teste de literacia digital elaborado possui 30 questões fechadas contendo questões assertivas sobre tópicos de tecnologias, questões sim/não sobre o uso de recursos tecnológicos, questões de múltipla escolha sobre as estratégias no uso de recursos tecnológicos, questões de múltipla escolha sobre a frequência no uso de recursos tecnológicos, questões de múltipla escolha sobre a percepção da importância dos recursos tecnológicos e questões auto-avaliativas de classificação da literacia digital. O questionário foi separado em 4 seções sendo literacia digital em geral, literacia digital em estudos e aprendizados acadêmicos, literacia digital em atividades profissionais ou no trabalho/emprego e literacia digital em vivências pessoais e atividades sociais e de entretenimento. O questionário online leva em torno de 20 minutos para ser respondido. O resultado indica um valor 0-100% para os 6 indicadores calculados literacia digital em geral, assertividade, estratégias, usos de tecnologia, frequência e percepção da importância, e um indicador único da auto-avaliação da literacia digital.

Resultados

O questionário foi respondido voluntariamente por 522 estudantes do curso, conforme tela parcial da Figura 1. Os resultados foram reunidos e analisados usando estatística descritiva e agrupamentos foram identificados. A Figura 2 apresenta parte dos resultados da análise estatística. Os indicadores de percepção da importância e assertividade não apresentaram diferenças significativas. Foi identificado o nível de literacia digital para cada respondente com base nas seguintes categorias, contabilizando o total de respondentes: alta literacia (n=282 pelo teste x n=136 autoavaliado), média literacia (230 x 232), literacia razoável (21 x 136), baixa literacia (12 x 33) e literacia muito baixa (1 x 9), respectivamente. Para cada categoria também foram identificados os níveis superior e inferior de literacia digital para cada indicador. Por exemplo, para o grupo com literacia digital alta foi identificado importância acima de 90% (n>90%), assertividade n>80%, estratégias n>60%, frequência n>60% e usos n>40%.

O Teste IDs resultou em uma literacia digital média de 71,0% para os estudantes da especialização (mediana 75,1%; mínimo 3,0%; máximo 98,0%). Os resultados da aplicação do Teste IDs com os estudantes possibilitou direcionar decisões da coordenação e da tutoria do curso quanto à escolha de materiais e as melhores abordagens a serem empregadas no curso. Os resultados apontaram quais eram os alunos e os polos UAB de apoio que precisavam de maior apoio tecnológico e indicaram hábitos e recursos mais usados. Assim, foi desenvolvido um plano de estudos com ferramentas para apoiar o desenvolvimento dos conteúdos do curso.


Figura 1. Questionário do teste de literacia digital fase 1 de 2017 (IDs pre-alpha). (a) Tela parcial do questionário. (b) Tela parcial do resultado do teste.


Figura 2. Parte dos resultados do teste de literacia digital fase 1 de 2017 (IDs pre-alpha) com 522 respondentes. (a) Boxplot parcial dos indicadores calculados. (b) Gráfico de radar dos agrupamentos obtidos pelo K-means.


Situação

No momento o teste de literacia digital, versão pre-alpha, encontra-se suspenso para uso público.

Equipe

Prof. Dr. Ivan Torres Pisa, UNIFESP (coordenação)
Prof. Gilberto Vieira Branco, Tutor IS5, UNIFESP
colaborações
Profa. Dra. Claudia Galindo Novoa, UNIFESP
Profa. Dra. Josceli Maria Tenório, IFSP
Frederico Molina Cohrs, Me., UNIFESP
Andréa Pereira Simões Pelogi, Me., UNIFESP

Referências

1. University of Westminter. Skillslab [Internet]. London: 2017. [cited 2024 May 14]. Available from: https://bit.ly/455U8LO.
2. Pelogi APS, Tenório JM, Pisa IT, Novoa CG. Especialização em Informática em Saúde UAB/UNIFESP: Relato de experiência. J Health Inform. 2022:14(Especial). Disponível em: https://jhi.sbis.org.br/index.php/jhi-sbis/article/view/976.
3. Lopes C, Pinto M. IL-HUMASS – Instrumento de Avaliação de Competências em Literacia da Informação: um Estudo de Adaptação à População Portuguesa (Parte I) [Internet]. Lisboa: Instituto Universitário. 2010. [citado 14 Maio 2024]. Disponível em: https://repositorio.ispa.pt/handle/10400.12/200.
4. Microsoft. Discover digital literacy courses and resources [Internet]. [s.l.]. [citado mai 2024]. Disponível em: https://www.microsoft.com/pt-br/digital-literacy.
5. Morgan DL. Focus groups. Annu. Rev. Sociol. 1996;22:129-52.
6. Triola MF. Elementary Statistics. 13a ed. Boston: Pearson; 2018.
7. Hartigan JA, Wong MA. Algorithm AS 136: A k-means clustering algorithm. J R Stat Soc [Ser C Appl Stat]. 1979;28(1):100-8.
8. Brasil. Ministério da Saúde. Lei Nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Redação dada pela Lei Nº 13.853 de 2019. [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde. 2019 [citado 14 mai 2024]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Ato2019-2022/2019/Lei/L13853.htm.